Protestos violentos em Moçambique deixam dezenas mortos e país à beira do caos
A comunidade internacional expressou preocupação com a escalada da violência em Moçambique
Schimene Weber –
Maputo, capital de Moçambique, viveu um dos seus dias mais violentos desde a independência. A confirmação da vitória do partido no poder nas eleições presidenciais, amplamente contestada pela oposição, desencadeou uma onda de protestos que culminou em uma fuga em massa de presos, confrontos com a polícia e um saldo trágico de pelo menos 56 mortos.
A crise se intensificou nesta quarta-feira (25) com a fuga de mais de 1.500 detentos de uma prisão de segurança máxima na capital moçambicana. Isso resultou em confrontos violentos com os agentes penitenciários, deixando 33 mortos e 15 feridos entre os fugitivos.
Essa instabilidade em Moçambique se aprofundou após a ratificação da vitória de Daniel Chapo, candidato da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), que governa o país desde a independência. A oposição, liderada por Venâncio Mondlane, denuncia fraudes nas eleições e não reconhece os resultados.
A violência se espalhou por Maputo, com barricadas nas ruas, saques a lojas e prédios públicos, e confrontos com a polícia. O hospital central da capital chegou a funcionar em condições críticas, com mais de 200 funcionários impossibilitados de chegar ao trabalho devido aos bloqueios.
A comunidade internacional expressou preocupação com a escalada da violência em Moçambique. A União Europeia, por exemplo, pediu “moderação a todas as partes” e manifestou “extrema inquietação” com a situação.
Ainda, a fuga em massa da prisão, os confrontos violentos e a paralisação de diversas atividades na capital demonstram a gravidade da crise que assola Moçambique. A falta de reconhecimento dos resultados eleitorais pela oposição, aliada à repressão policial, criaram um ambiente de instabilidade que ameaça a frágil democracia do país.
Segundo o ministro do Interior, Pascoal Ronda, grupos armados atacaram delegacias de polícia, centros de detenção e outros edifícios públicos, incendiando veículos e provocando a fuga de dezenas de detentos. A violência, concentrada principalmente no norte do país, onde a oposição possui maior força, demonstra a crescente insatisfação da população com os resultados eleitorais.
Venâncio Mondlane, líder da oposição e principal adversário de Daniel Chapo, candidato da Frelimo, continua a contestar a vitória do partido no poder, alegando fraudes e manipulação dos resultados. Em um discurso inflamado, Mondlane convocou a população a intensificar os protestos, exigindo a “verdade eleitoral”.
A violência pós-eleitoral tem causado um profundo impacto na sociedade moçambicana. Cidades inteiras foram paralisadas por barricadas, comércios foram saqueados e a população vive em clima de medo e incerteza. A crise humanitária se agrava a cada dia, com hospitais funcionando em condições precárias e a falta de serviços essenciais.
A comunidade internacional acompanha com preocupação a escalada da violência em Moçambique. A confirmação da vitória da Frelimo pelo Conselho Constitucional, apesar das denúncias de fraude, foi vista como uma afronta à democracia e um golpe para a esperança de mudança por parte da população.
Essa “humilhação do povo”, como define Mondlane, é o sentimento que domina a sociedade moçambicana neste momento. Por isso, a população, cansada da desigualdade e da corrupção, esperava que as eleições pudessem marcar o início de uma nova era. No entanto, os resultados controversos e a violenta repressão aos protestos reacenderam a chama da insatisfação e colocaram em risco a frágil estabilidade do país.
*Com informações do Jornal O Globo