Burnout: A síndrome que cresce nos ambientes de trabalho e desafia limites da saúde mental
Exaustão, estresse e esgotamento físico são marcas da Síndrome de Burnout, que afeta trabalhadores submetidos a pressões e responsabilidades intensas
Cibele Chacon
Da redação
A Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, é uma condição marcada pelo desgaste extremo e duradouro, relacionado ao ambiente de trabalho. Desde 2022, o Burnout passou a ser reconhecido no Código Internacional de Doenças (CID-11) como uma doença ocupacional, e pode levar a outros quadros de adoecimento mental, como transtornos depressivos ou transtornos de ansiedade, por exemplo.
Segundo a psicóloga Tayná Travain Calicchio, a síndrome se manifesta de forma distinta, com três principais características. Ela explica que envolve sentimento de exaustão ou falta de energia constante, distanciamento mental e emocional do trabalho e sentimento de negativismo em relação à atividade exercida. “A pessoa entende que se dedica ao máximo ao seu trabalho, mas possui a sensação que não colhe nenhum fruto a partir desse engajamento ou que aquilo que conseguiu não possui valor”.
Com sintomas que vão além do desgaste comum, a psicóloga explica que a principal característica que diferencia o Burnout de outras formas de esgotamento é a sua relação direta com o trabalho. Além dos sinais de exaustão e desmotivação, Tayná lista outros sintomas psicológicos e físicos que podem indicar a presença da síndrome: “Há outros sintomas, como falta de motivação para trabalhar, irritabilidade, pessimismo, falta de concentração, rebaixamento da autoestima, distanciamento das relações interpessoais. Além disso, alguns sintomas físicos podem estar presentes, tais como dores de cabeça constantes, fadiga, tensão muscular, insônia, alterações no funcionamento gastrointestinal, e, até mesmo pressão alta e palpitações”.
A pressão contínua no trabalho é um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento do Burnout. O uso de ferramentas tecnológicas, segundo Tayná, agrava essa situação ao tornar tênues os limites entre vida pessoal e trabalho. “Os meios de comunicação atuais, como aplicativos de mensagem, praticamente eliminaram os limites entre a vida pessoal e o trabalho, pois, mesmo depois de encerrado o expediente, é comum que as mensagens e ligações persistam. Isto tende a favorecer os desencontros na comunicação e contribuir para o esgotamento”, comenta a psicóloga.
Embora qualquer trabalhador possa ser afetado, alguns grupos estão mais expostos. “A Síndrome de Burnout é mais comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão, exigência de resposta rápida e com responsabilidades constantes. Profissionais da saúde, educação, tecnologia da informação e serviços comunitários são os mais afetados”, explica a psicóloga.
Para Tayná, a evolução do Burnout pode ser observada em diferentes estágios que envolvem mudanças de comportamento e atitudes. “Alguns ‘estágios’ que precisamos estar atentos incluem uma dedicação intensa ao trabalho, descaso com necessidades básicas pessoais e a desvalorização de momentos de lazer e convivência com familiares e amigos”, detalha.
O tratamento e a prevenção exigem uma abordagem cuidadosa para preservar a saúde mental e física dos trabalhadores. A psicóloga recomenda pausas e práticas saudáveis. “O esgotamento emocional e psicológico exige que a pessoa desacelere, é realmente o momento de reduzir atividades e focar no essencial para uma qualidade de vida. A atividade física é fortemente recomendada, pois auxilia no controle do estresse e ansiedade. Não exceder em horas extras, respeitar os limites entre trabalho e vida pessoal. Ter momentos de lazer com familiares e amigos”.
A psicóloga enfatiza que o apoio familiar é essencial para a recuperação e destaca a necessidade de compreensão: “O apoio dos familiares é muito importante para a recuperação de quem está enfrentando Burnout, assim, se faz imprescindível o não julgamento da situação e nem minimização do sofrimento”.
Por fim, Tayná alerta sobre os discursos modernos que podem influenciar negativamente a saúde mental, promovendo padrões de autocobrança e competitividade excessiva. “É importante que discursos de ‘trabalhe enquanto eles dormem’, ‘eu sou autossuficiente e não preciso de ninguém’ e ‘todo mundo tem as mesmas 24h’ caiam por terra, pois esse discurso neoliberal da sociedade atual tem influenciado de maneira significativa não só os casos de Burnout, mas de transtornos e doenças psíquicas como um todo”. Ela ressalta que combater esses mitos e ampliar o entendimento sobre a síndrome é fundamental para enfrentar o problema de forma adequada.
PARANÁ – Em 2023, foram notificados 192 casos de Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho (TMRT) no Paraná e, em 2024, dados preliminares mostram que até agosto foram 172 notificações. As unidades da Atenção Primária e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são portas abertas para fazer o acolhimento e primeira avaliação das pessoas com queixas relacionadas à Síndrome de Burnout, no Sistema Único de Saúde (SUS).